Landscape & Urbanism

 

Waldemar Cordeiro’s persistent engagement with his parallel activity as a landscape designer was inseparable from his artistic oeuvre. From his sculptural Concretist residential gardens to plazas, parks and landscape designs, the artist did more than 150 works over two decades, while disseminating modern architecture and landscaping to several parts of Brazil. The ties between his art and the landscaping activities are impossible to be denied.

ARTE, ARQUITETURA & VIDA / ART, ARCHITECTURE & LIFE

SÃO PAULO, REVISTA AD ARQUITETURA E DECORAÇÃO, DEZEMBRO DE 1957 / SÃO PAULO, AD ARQUITETURA E DECORAÇÃO MAGAZINE, DECEMBER, 1957

WALDEMAR CORDEIRO

 

o artigo do arquiteto silvio de vasconcelos, reproduzido nesta revista (ad 24), sugeriu-me estas notas despretenciosas, o articulista situa a criação arquitetônica à mergem daquilo que êle chama de exclusivismo da forma pela forma”, como que percebendo que o mero interêsse plástico conduziria fatalmente a arquitetura para um terreno de experimentações pertinentes a outras artes, desvirtuando a sua razão de ser, isto é, a sua intima relação com a vida. é inegável que o problema das relações da arte com a vida se apresente como o mais complexo de ser abordado. isso é perfeitamente compreensivel, dada a sua renovação constante no processo do desenvolvimento histórico. qualquer tentativa que vise a apurar as relações da arte com a vida num momento determinado, deverá partir de considerações criticas sôbre a forma de arte em foco. caso contrário, todo esfôrço se frustraria por falta de caracterização de um dos termos da relação, o termo, aliás, mais importante: a arte.

no caso particular da arquitetura especifica, quer parecer-me que a relação arte-vida torna configuração, é que a forma artistica tem aqui natureza pragmática e a prática existe como forma artistica. a arquitetura, então, se apresenta como sintese direta e concreta do binômio arte-vida.

acompanhando esta linha de raciocinio, chegaremos a uma noção mais ampla de forma. indispensável, de resto, à explicação de uma criação cujos valores têm natureza contingente. forma de viver: é a arquitetura, por exemplo, que nos permite reconstruir a ”forma mentis“ e suas respectivas diferenciações que caracterizariam um romano de 1500 e um japonês da mesma época. não me refiro apenas à aparência dessas construções, mas ao modo de viver e pensar que as determinou, ao gesto leve e lúcido de uma mão que abre uma porta de correr de madeira fragilissima, forrada de papel de seda, e à força bruta que move os batentes de um portão de proporções monumentais e maciças. forma de relações humanas: abrir ou fechar um vão numa parede não é apenas delimitar o campo visual ou dosar a luz. é um fato social, que favorece ou impede relações humanas. as casas da idade média, é notório, têm poucas e reduzidas aberturas para a rua, diversamente daquelas da renascença em que a comunicabilidade com a parte externa é incomparàvelmente maior. será esta, perguntamos, uma diferença apenas de forma? hoje há arquitetos que impõem aos clientes um modo de vida que êstes não querem. o ”hortus conclusus“ é ainda a aspiração de uma mentalidade que reflete uma coletividade em lotes, de vizinhos desconfiados – resultado: as cortinas e as cêrcas vivas “retocam” a arquitetura e a adaptam, com evidentes prejuizos formais, mas com maior realismo. forma da relação com o mundo exterior, e tantas outras coordenadas da forma, que culminam numa única estrutura simples no seu resultado final, mas complexa para quem queira remontar, através de uma exegese precisa, à problemática que lhe deu origem.

em resumo, apresenta-se hoje a necessidade de ampliar e vulgarizar a noção de forma (forma de um gesto, forma de uma relação humana, forma de um modo de produzir, de comer, de conversar, de pensar, etc...) e a relação arte-vida deve ser vista, na minha opinião, como produto criativo de relações as mais amplas, sempre encaradas de um ponto de vista humano e não meramente técnico (produto das relações humanas1 e não da produção; produto das relações com o mundo exterior e não do mundo exterior). se essas considerações forem verdadeiras com relação à arquitetura, não o serão menos para as artes de vanguarda, cujo trabalho se concentra hoje numa transferência de valores do dominio da contemplação para o dominio da contingência. waldemar cordeiro..

I was prompted to write these unpretentious notes after reading an article by architect Silvio Vasconcelos in this magazine (arquitetura e decoração n. 24), which situates the creative work of architecture on the margins of what he calls the “exclusiveness of form for the sake of form.” As it seems, he perceived that mere interest in the visual arts would inevitably lead architecture onto a breeding ground for experimentation pertaining to other forms of art, thus detracting from its own relationship with life.

Undeniably, the problem of the relationship between art and life presents itself as the most complex issue to be addressed, which is perfectly understandable given the constant renovation in the process of historical development. Any attempt to scrutinize the relationship between art and life at a particular time must be based on critical thought in relation to the approached art form; otherwise, any effort would lead to disappointment by failing to characterize one of the terms in the relationship, in fact the most important of them: art. In the particular case of a specific architecture, it seems to me that the art-life relationship becomes configuration, as the artistic form here is of a pragmatic nature and practice exists as artistic form. Architecture therefore is posed as a direct and concrete synthesis of the binary structure of art and life.

Following this line of reasoning, we arrive at a broader notion of form that is indispensable if we are to explain a creative activity the values of which are contingent in nature. Form of life: it is architecture, for example, that enables us to reconstruct the forma mentis (form of life, mindset) and its respective differentiations that characterized a 16th Century Roman, or a Japanese individual of the same period. Here I am not referring only to the looks of these constructions, but to the lifestyle or ways of living and thinking that determined them; to the light and lucid gesture of a hand opening an extremely fragile sliding door lined with tissue paper, or the brute strength needed to push a door or gate of monumental and massive proportions. Form of human relationships: opening or closing an opening in a wall does not just demarcate a visual field or adjust the quantity of light coming in. It is a social fact that favors human relations, or discourages them. In the Middle Ages, homes had notoriously few openings onto the street, and they were very small too, unlike Renaissance dwellings in which the ability to communicate with the outside world is incomparably greater.

We may wonder whether this difference is merely one of form. Today there are architects who impose a way of life on clients who do not really want it. The hortus conclusus (enclosed garden) is also the aspiration of a mentality that reflects clustered communities, with neighbors suspicious of each other. The result is that curtains and hedges “retouch” the architecture and adapts it, with obvious formal losses, but with greater realism. Form of relationship with the outside world and with so many other form coordinates that culminate in an unique simple structure in their final outcome, but one that is quite complex for anyone attempting to re-assemble the problematic that gave rise [to the structure] by means of precise exegesis.

In short, today a need arises to broaden and popularize the notion of form (form of a gesture, form of human relationship, form of a mode of production, of eating, of talking, of thinking, etc. …) and, in my opinion, the art-life relationship must be seen as a creative product of much broader relationships, seen in all cases from the human rather than merely technical point of view (as product of human relationships1 rather than product of production; as product of relationships with the outside world rather than product of the outside world). If these assumptions are applicable to architecture, they will be no less for the avant-garde arts whose tasks today are concentrated in transferring paradigms from the domain of contemplation to the domain of contingency

Waldemar Cordeiro (à esquerda) na Exposição de Primavera, Parque Ibirapuera, Palácio dos Estados, São Paulo / Waldemar Cordeiro (left) at the Exposição de Primavera (Spring Exhibition), Parque Ibirapuera, Palácio dos Estados, São Paulo, 1954

Waldemar Cordeiro (à esquerda) na Exposição de Primavera, Parque Ibirapuera, Palácio dos Estados, São Paulo

/ Waldemar Cordeiro (left) at the Exposição de Primavera (Spring Exhibition), Parque Ibirapuera, Palácio dos Estados, São Paulo, 1954